UM JANTAR PARA DOIS - Crônica Humorística

     

     


     Uma bela jovem adulta, adquiriu um apartamento em um bom prédio no centro da cidade onde a muito tempo morava; porém sempre em imóveis alugados. Reservada, fez a sua mudança sem causar grande movimentação, as pessoas, já moradoras do prédio, quase nem perceberam sua chegada ao residencial; menos o morador do 201, o vizinho mais próximo; esse dava conta de praticamente tudo o que acontecia no edifício, imaginem no apartamento ao lado!

      Ele era aquele típico fofoqueiro, estava quase sempre próximo de todos e de tudo; se não estava próximo, estava de olho, a vida alheia era para ele o que é um reality show para um assíduo telespectador do gênero.

      Porém, daquela moça ele não conseguia se aproximar, ela não lhe dava espaço algum; às vezes ele aproveitava a companhia de sua discreta esposa para quebrar aquela barreira que ela lhe impunha, mas nada adiantava, ela se mantinha inacessível!

      Ele não conseguia saber absolutamente nada sobre ela, apesar de todo o seu empenho; ele até se esqueceu um pouco da vida dos demais condóminos, para alívio deles. 

    O vizinho curioso fazia verdadeiros plantões na tentativa de flagrá-la chegando do trabalho acompanhada por algum homem e mesmo sem necessidade alguma de se levantar tão cedo, o fazia, na expectativa de surpreendê-la com alguém, ao sair para o trabalho; contudo,  todo o seu sacrifício era em vão; tudo que ele sabia dela, além de que havia comprado aquele imóvel, é que ela trabalhava o dia todo; que às vezes recebia sim em seu apartamento, mas sempre um pequeno grupo de colegas de trabalho, moças e rapazes que nunca pernoitavam.

     Já a ponto de morrer de tanta curiosidade, ele acabou ouvindo parte de uma conversa, na qual ela dizia que estava preparando um jantar para dois. Ao invés de aplacar a sua curiosidade, aquilo o levou a padecer ainda mais com seu mal e decidiu que de modo algum perderia a oportunidade de satisfazer, de matar aquilo que vinha lhe matando... então, procurou se conter por alguns instantes, enquanto maquinava o que fazer e quando imaginou que o jantar pudesse estar servido, passou a mão em uma xícara e batendo na porta da vizinha disse – por favor vizinha, me arrume uma xícara de açúcar – enquanto lhe falava seus olhos procuravam por vestígios do suposto acompanhante, que não se encontrava à mesa, a qual estranhamente estava posta para uma só pessoa.

     Olhou para o estofado e nele não havia ninguém, até que ela olhando para um canto perto da mesa disse – Tatão, já lhe acompanho no jantar – foi aí que o desocupado e indiscreto visualizou sobre um tapete, saboreando uma generosa porção de canja com coração de galinha; o Tatão, um vira lata que ela havia adotado na tarde daquele dia e o que ele, o vizinho fofoqueiro ouviu foi a conversa dela com a dona do abrigo onde havia adotado o cachorro.

      O dito cujo ficou visivelmente perturbado, o que parecia ser de tanta decepção, de modo que ao confirmar do que ele realmente precisava, ele respondeu – de uma xícara de sal – ela lhe perguntou – mas não era açúcar? Ele disse  – pode ser sal, contendo o riso ela encheu a xícara e lhe entregou; ele, frustrado, se virou e lentamente adentrou seu apartamento.
             
 

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