SAUDADES DE COMADRES - Crônica Humoristica



Quão engraçadas as saudades de comadres! Ficam ansiosas para se reencontrarem e matar suas saudades; até parece maldade, ficarem tanto tempo sem se ver! Sem se darem aquele abraço apertado, colocar as conversas em dia e todo dia tem assunto; na verdade, assunto não lhes falta. Ah!... Enquanto o mundo for mundo; terão o que conversar, terão casos para contar.

Quantos casos! E que casos! E tamanha a necessidade de compartilhá-los! Ao se encontrarem; mal se abraçam, mal se perguntam como vão, como vão as famílias e lá vem os assuntos!

É bem assim: comadre! Quanto tempo! Que saudade comadre! Nossa! Estava doida pra te encontrar comadre! — Comadre!... Então eram duas (kkkkkk) — é mesmo?

— Comadre temos tanta coisa pra conversar — ­a não comadre... não fala não... eu também comadre, eu também.

— Comadre, antes da senhora começar comadre, antes da senhora começar... eu preciso contar uma coisa... essa eu não posso esquecer. A comadre lembra da Nara, aquela que foi minha vizinha de porta, desde que a gente se casou? — Lembro, lembro comadre, como eu ia esquecer?... Não é aquela que a comadre sempre comentava que dormia o dia inteiro?... — Pois é comadre, ela, ela mesma; dormiu tanto que quando acordou estava perdendo o marido. — Como é que é comadre? — É isso mesmo que a comadre ouviu; dormiu tanto comadre, que quase perdeu o marido para aquela loira de corpão, bem bumdurruda, lá de perto da baixada — da baixada? — É comadre, da Baixada do Chifre, pois foi lá que o Ombro Torto pegou no flagra a Licinha — sim, sim comadre, agora me lembrei — pois é, essa loira mora lá e a Nara quase ficou sem o marido, por pouco não perdeu ele pra quadriluda; enquanto ela passava quase o dia todo esparramada na cama, dormindo eles estavam bem acordados — ah não comadre (kkkkk) — (kkkkk).

— Mas a comadre ia me contar outra coisa — é verdade comadre, é tanto assunto que de um a gente pula pro outro; mas esse eu não posso esquecer não; comadre, a senhora não há de ver que a menina mais velha dela, está grávida — grávida comadre; de quem comadre? — Do Joãozinho comadre, filho do Tiãozinho — ah não comadre, aquele menino que nunca gostou de trabalhar nem de estudar! O que vai ser dessa menina? — Pois é comadre, ela com dezessete anos... nem terminou os estudos; ele com dezenove, parou de estudar faz tempo; não trabalha; os pais que vão ter que cuidar do neto e continuar tratando dos filhos.

— Mas comadre... até agora só eu falei... fala também: — comadre a senhora não sabe da maior; — o que foi comadre? — a comadre não a de ver que a filha de Zanica viajou pra fora... e acabou de voltar com um barrigão! — grávida comadre? — grávida comadre e ninguém fala sobre o pai, acho que nem o pai e a mãe dela sabem quem é; — ah não comadre assanhada do jeito que ela sempre foi, se ela souber de quem, já tá de bom tamanho — o pior é que é comadre, o pior é que é... — eh comadre onde vai parar esse mundo? — sei não comadre, sei não; no nosso tempo as coisas eram tão diferentes não é comadre — eram mesmo... sabe comadre às vezes eu fico pensando... é o fim dos tempos comadre — pois eu não penso a mesma coisa!

— Outro dia eu encontrei o compadre Abílio; ai fui perguntando por todo mundo; perguntei pela mulher, ele disse que ela está bem, que a união dos dois não é como o casamento dele com a falecida comadre... mas que vivem bem; ai eu fui perguntando de um por um dos meninos dele, mas quando eu procurei pelo Glaucinho, a lágrima desceu... — o Abílio chorou para a senhora, mas porque comadre? — Desgosto!... — Sabe aquilo que a gente sempre desconfiou do Glaucinho... pois agora não é mais desconfiança, é fato; ouvi do próprio pai dele — coitado do Abílio! Criou aqueles filhos com tanta luta, com tanto sofrimento! — Pois não foi comadre e agora receber em troca um desgosto desse!...

— Comadre do céu, já é tarde! Eu nem vi a hora passar comadre! Se eu perder esse ônibus... a comadre vai ter que me dar pouso kkkkk — kkkkk, — pouso dado kkkkk. — Falando sério comadre... eu tenho que ir. — Tá cedo comadre, a gente quase nem conversou, o tempo passou voando — ah comadre, quando a gente se encontra o tempo voa!

— Mas tá bom comadre, já deu pra matar a saudade, — deu sim comadre, deu sim; mas não demora voltar não. — Ah!... agora eu vou esperar a comadre lá em casa; enquanto a comadre não for... eu não venho. — Pode deixar comadre, eu vou sim. — Comadre olha, eu tenho mesmo que ir, se não o Tônio vai pensar: a mulher escafedeu... kkkk — kkkk. — Comadre, então vai com Deus, um abraço pro compadre Tônio; pros meninos... — outro pro compadre Tício também comadre, pros meninos... não vamos demorar nós encontrar mais não; — não comadre, a gente vai se encontrar em breve, para matar a saudade. 

 

 

 


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