O AMOR NÃO AGENDA HORÁRIO - Conto


          Era de manhã; em uma segunda-feira que seria como todas as outras; nenhum compromisso muito importante; nenhum lugar tão novo para se ir, nada praticamente, que fugisse à rotina, até os itinerários eram praticamente os mesmos; com a excessão de um determinado lugar onde Alissa tinha um horário agendado.
          E de repente, naquele lugar e momento totalmente improváveis; embora não haja lugar e ou momento determinados para que o amor apareça... surge um clima de romance... Alissa, sentiu-se, não constrangida, mas surpresa, pois a situação não era apenas inesperada, contudo, inusitada!...
Pois era um dia normal, de trabalho. Uma segunda-feira!... Mas o amor não agenda dia nem horário; todo ser humano é sabedor disso; porém, não há quem não se surpreenda quando ele aparece em situações tão improváveis! E Alissa ficou sobremaneira surpresa e sem ação; não se tratava de cantadas baratas, de algum tipo de importunação ou assédio; ela apenas não sabia como agir, como corresponder; naquele instante não lhe vinha à memória nenhuma dica de paquera para corresponder a tão discretas denguices.
         Muito ético e elegante, suas insinuações eram sim discretíssimas, contudo, o encanto e aquela espécie de amor à primeira vista, Lourenzo não conseguia disfarçar.
Enquanto que Alissa aparentemente não apenas se mostrava desinteressada, como também não demonstrava perceber o que acontecia; porém, internamente ela se encontrava em êxtase diante daquele homem belo e envolvente, que silenciosamente parecia lhe implorar por um mínimo sinal!... 
Não sabendo o que fazer e sabedora de que aquela podia ser uma chance única para ambos, resolveu tomar uma atitude, sem de modo algum parecer fácil ou vulgar. Então, lhe veio à mente agir de maneira que Lourenzo, ou qualquer outra pessoa pudesse dar múltiplas interpretações. Porém, ela sabia que Lourenzo daria a interpretação que a ele era conveniente e sem saber, atendendo ao interesse que lhes era em comum.
           E fez a seguinte pergunta a Lourenzo, que portava dr. antes de seu nome: "doutor, se o amor fosse um paciente, não em estado grave, você o atenderia sem um horário previamente marcado?"  Com um sorriso eufórico e ao mesmo tempo contido... amavelmente Lourenzo a respondeu: "sei que é uma suposição; mas, o amor não é e jamais seria um paciente; pois em sua supremacia, ele faz de cada um de nós, seu paciente; a quem cura e adoece". Afirmou sorridente e com olhar lânguido. E continuou:"quem nunca ouviu estas frases: o amor cura, para curar um amor... só outro amor e está doente de amor!... E ele não marca dia, horário ou lugar, ele simplesmente acontece... surge... nasce e sem um tempo determinado para se gerar!..." Como uma imagem reprisada... novamente sorriu e com olhar lânguido, fixo em Alissa.
           E assim transcorreu exatamente como Alissa desejava, não sair dali sem que ficasse explícito que tanto o encantamento quanto o interesse eram recíprocos, sem que ela tivesse que ser mais ousada do que o doutor Lourenzo.
          Então disse-lhe: "se você possível fazer raio x de pensamentos e de sentimentos você veria que são estes exatamente os meus". Sentindo-se confortável para ir além o doutor Lourenzo disse-lhe: "era tudo o que eu mais queria!... Porém, tendo que ser contraditório, mais ciente de sua compreensão... 'não nos encontramos em um lugar apropriado;' mas, de posse do seu cadastro, dou-lhe a minha palavra, de que ligarei quantas vezes forem necessárias; irei onde eu tiver que ir para lhe encontrar!" Completamente arrebatada, Alissa correspondeu-lhe com um eufórico e meigo sorriso e confessando que estaria ansiosa à sua espera!  
        Assim, completa e repentinamente apaixonados, porém contidos, se despediram. Alissa se foi... acometida da mais saudável, gostosa e delirante embriaguez... uma grande e repentina paixão! Lourenzo estava em êxtase e de imediato tratou de surpreender e cortejá-la. 
        Já estava no seu horário de almoço; ela saiu dali direto para sua casa e logo ao chegar... deparou com um lindo buquê de rosas vermelhas e nele um cartão com poucas e as mais belas palavras... além de um convite para jantar. 

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